terça-feira, 31 de julho de 2012

Em outubro todo mundo lá...



O aldeão não se alimenta da cultura, vive de migalhas que os políticos jogam sobre suas vestes rasgadas pelo tempo... O vento enobrece o balançar dos cabelos... cego pela educação, mas não perde a razão de que não vale a pena entender, aprender... O que importa para o excluído é: pão, circo, e brincar de fazer filhos e dias felizes que virão...


Não há vagas
                                                   Ferreira gullar 

O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás a luz o telefone
a sonegação do leite da carne do açúcar do pão
O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome
Sua vida fechada em arquivos.
Como não cabe no poema o operário que esmerilha seu dia de aço e carvão.
Nas oficinas escuras
 porque o poema, senhores, está fechado: "não há vagas"
Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço
O poema, senhores, não fede nem cheira.


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Muitos serão chamados...


De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: “Caminhando e cantando e seguindo a canção.”, Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.


Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.

Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.

Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Capitalizona!


O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando”,

Avalia o economista francês Serge Latouche, . Segundo ele, a crise financeira e o caos ambiental instalados no planeta farão o capitalismo reencontrar “a lógica de suas origens, ou seja, crescer à custa da sociedade”. Ao ser questionado sobre a possibilidade de conciliar crescimento econômico e sustentabilidade, ele é enfático: “Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião.”
Segundo ele, o PIB não pode mais crescer, e a “única possibilidade para escapar ao pauperismo” é “retornar aos elementos fundamentais do socialismo”.
Serge Latouche, além de economista, é sociólogo, antropólogo, professor de Ciências Econômicas na Universidade de Paris-Sul e presidente da Associação Linha do Horizonte. É doutor em Filosofia, pela Université de Lille III, e em Ciências Econômicas, pela Université de Paris, diplomado em Estudos Superiores em Ciências Políticas, pela Université de Paris, , 2003)
– Se proclamarmos que o crash financeiro desencadeado pelo abuso dos subprimes é uma boa coisa, então, embora ele seja o iniciador de uma crise bancária e econômica que corre o risco de ser longa, profunda e talvez mortal para o sistema, podemos ser taxados de provocação. No entanto, para os opositores do crescimento, esta crise constitui o sinal anunciador do fim de um pesadelo.
Não se trata, por certo, de negar que esta crise irá atingir com o desemprego milhões de pessoas e gerar sofrimentos para os deserdados do Norte e do Sul. Porém, e acima de tudo, o decrescimento escolhido não é o decrescimento sofrido. O projeto de uma sociedade de decrescimento é radicalmente diferente do crescimento negativo, aquele que agora já conhecemos. O primeiro é comparável a uma cura de austeridade empreendida voluntariamente para melhorar o próprio bem-estar, quando o hiperconsumo vem nos ameaçar pela obesidade. O segundo é a dieta forçada, podendo levar à morte pela fome. Nós o dissemos e repetimos bastantes vezes. Não há nada pior do que uma sociedade de crescimento sem crescimento. Sabe-se que a simples desaceleração do crescimento mergulha nossas sociedades no descontrole, em razão do desemprego, do aumento do abismo que separa ricos e pobres, dos atentados ao poder de compra dos mais desprovidos e do abandono dos programas sociais, sanitários, educacionais, culturais e ambientais que asseguram um mínimo de qualidade de vida. Pode-se imaginar que enorme catástrofe pode originar uma taxa de crescimento negativo. Esta regressão social e civilizatória é precisamente o que nos espreita, se não mudarmos de trajetória.
– Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião.
Hoje em dia, a festa acabou: já não há mais margens de manobra. A torta, isto é, o produto interno bruto, não pode mais crescer. Mais ainda (e nós o sabemos muito bem há longo tempo, embora nos recusemos a admiti-lo), a economia não deve crescer. A única possibilidade para escapar ao pauperismo, tanto no Norte como no Sul, é a de retornar aos elementos fundamentais do socialismo, mas sem esquecer, desta vez, a natureza: repartir o bolo de maneira equitativa. Ele era trinta a cinquenta vezes menor em 1848 e, no entanto Marx, mas também John Stuart Mill, já pensavam que o problema não era o volume da torta, mas sua injusta repartição! Como, crescendo, a torta se tornou cada vez mais tóxica – as taxas de crescimento da frustração, seguindo a fórmula de Ivan Illich, excedendo amplamente as da produção –, era inevitavelmente necessário modificar a receita. Inventamos, então, uma bela torta com produtos biológicos, de uma dimensão razoável para que nossos filhos e nossos netos pudessem continuar a produzi-la, e a compartilhamos equitativamente. As partes não serão talvez muito grandes para nos tornar obesos, mas a alegria estará no encontro marcado. Com outras palavras, ela nos oferece a oportunidade de construir uma sociedade eco-socialista e mais democrática. Tal é o programa do decrescimento, única receita para sair positiva e duradouramente da crise de civilização em que vivemos.
– Uma lógica de crescimento e um projeto de decrescimento são incompatíveis, mas o projeto de decrescimento visa fazer crescer a alegria de viver, restaurando a qualidade de vida (um ar mais sadio, água potável, menos estresse, mais lazer, relações sociais mais ricas etc.).
– As duas opções são possíveis. Infelizmente, nem a crise econômica e financeira, nem o fim do petróleo são necessariamente o fim do capitalismo, nem mesmo da sociedade de crescimento. O decrescimento só é viável numa “sociedade de decrescimento”, isto é, no quadro de um sistema que se situa sobre outra lógica. A alternativa é, por conseguinte, esta: decrescimento ou barbárie! Uma economia capitalista ainda poderia funcionar com uma grande escassez dos recursos naturais, um desregramento climático, o desmoronamento da biodiversidade etc. É a parte de verdade dos defensores do desenvolvimento durável, do crescimento verde e do capitalismo do imaterial. As empresas (pelo menos algumas) podem continuar a crescer, a ver sua cifra de negócios aumentar, bem como seus lucros, enquanto as fomes, as pandemias, as guerras exterminariam nove décimos da humanidade. Os recursos, sempre mais raros, aumentariam mais que proporcionalmente de valor. A rarefação do petróleo não prejudica, bem ao contrário, a saúde das firmas petroleiras. Se isso não vale da mesma forma para a pesca, existem substitutivos para o peixe, cujo preço não pode crescer na proporção de sua raridade. O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando. O capitalismo reencontrará a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade.
– E como! Mais de 40%, segundo os últimos dados disponíveis. Nosso sobre-crescimento econômico se furta aos limites da finitude da biosfera. A capacidade regeneradora da Terra já não consegue mais seguir a demanda: o homem transforma os recursos em rejeitos mais rapidamente do que a natureza consegue transformar esses rejeitos em novos recursos (1).
Se tomarmos como índice do “peso” ambiental de nosso modo de vida sua “pegada” ecológica em superfície terrestre ou espaço bioprodutivo necessário, obtém-se resultados insustentáveis, tanto do ponto de vista da equidade nos direitos de extração da natureza quanto do ponto de vista da capacidade de carga da biosfera. O espaço disponível sobre o planeta Terra é limitado. Ele representa 51 bilhões de hectares.
Todavia, o espaço “bioprodutivo”, ou seja, útil para a nossa reprodução, é apenas uma fração do total, ou seja, em torno de 12 bilhões de hectares (2). Dividido pela população mundial atual, isso dá aproximadamente 1,8 hectares por pessoa. Tomando em conta as necessidades de materiais e de energia, aqueles que são necessários para absorver dejetos e rejeitos da produção e do consumo (cada vez que queimamos um litro de essência, nós necessitamos de cinco metros quadrados de floresta durante um ano para absorver o CO2!) e acrescentando a isso o impacto do habitat e das infraestruturas
Os homens já deixaram, portanto, a vereda de um modo de civilização durável que necessitaria limitar-se a 1,8 hectares, admitindo que a população atual permaneça estável. Desde já vivemos, portanto, a crédito. Além disso, este empreendimento médio oculta muito grandes disparidades. Um cidadão dos Estados Unidos consome 9,6 hectares, um canadense 7,2, um europeu 4,5, um francês 5,26, um italiano 3,8.
Mesmo havendo grandes diferenças no espaço bioprodutivo disponível em cada país, estamos bem longe da igualdade planetária. (2) Cada americano consome em média em torno de 90 toneladas de materiais naturais diversos, um alemão 80, um italiano 50 (ou seja, 137 kg por dia). Em outros termos, a humanidade já consome perto de 40% mais que a capacidade de regeneração da biosfera. Se todo o mundo vivesse como nós franceses, seriam necessários três planetas, e precisaríamos de seis para seguir nossos amigos americanos. Mesmo o Brasil já ultrapassa (em torno de 15%) a cifra sustentável.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Memórias ativadas:


Ampaquinas você não esquecerá deste nome:

Estudo com ratos mostra como as ampaquinas aumentam a produção de uma proteína cerebral
para combater os danos à memória
Um medicamento feito para melhorar a memória parece ativar um mecanismo natural no cérebro que reverte completamente a perda de memória relacionada à idade, mesmo depois de ter saído do corpo, de acordo com pesquisadores da Universidade da Califórnia em Irvine.
"Essa é uma descoberta significativa", disse Gall, professora de anatomia e neurobiologia. "Nossos resultados indicam a empolgante possibilidade de que as ampaquinas poderiam ser usadas para tratar a perda da memória e do aprendizado associada ao envelhecimento comum".
Os cientistas descobriram em testes com ratos que aqueles tratados com ampaquinas apresentaram um aumento significativo na produção do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína conhecida por ter um papel essencial na formação da memória. Eles também encontraram um aumento na potenciação de longa duração (LTP), o processo pelo qual a conexão entre as células do cérebro melhora e a memória é codificada. Essa melhoria é responsável pela função cognitiva a longo prazo, maior aprendizado e pela habilidade de raciocínio. Com a idade, surgem deficiências na LTP, e a perda do poder de aprendizado e da memória acontece.
O retorno da LTP foi visto no cérebro de ratos de meia idade mesmo depois que as ampaquinas já haviam saído do corpo dos animais. A meia-vida do medicamento injetado era de apenas 15 minutos; o aumento na LTP foi visto nos cérebros dos ratos mais de 18 horas depois.
De acordo com os pesquisadores, esse estudo sugere que produtos farmacêuticos com base nas ampaquinas podem ser desenvolvidos para que não seja necessário que estejam no corpo para serem eficazes. A maioria dos medicamentos utilizados para lidar com distúrbios no sistema nervoso central, como o mal de Parkinson, é eficaz apenas enquanto estão no corpo.
A presença duradoura da LPT também parece contribuir para a permanência do BNDF no corpo, de acordo com os pesquisadores. "As ampaquinas funcionam de duas maneiras importantes para melhorar o aprendizado e a memória", disse Lauterborn. "Elas estimulam diretamente a conexão entre as células nervosas, que possuem efeito imediato no aumento da LTP. Mas elas também aumentam a presença dessa importante proteína, a BDNF, que pode ficar no corpo e continuar melhorando a memória mesmo depois de a droga deixar o corpo".