quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Afogamentos:




As altas temperaturas do verão são um convite para um banho de piscina. Há ainda quem prefira um mergulho em rios e lagos, porém, não se pode descuidar do risco de um afogamento, que são mais frequentes nesta época do ano.

“Em primeiro lugar, lagos, rios e represas não são lugares de nadar, a menos que sejam um balneário com a presença de guarda vidas profissionais. Existe uma máxima que diz ‘água no umbigo, sinal de perigo’. Se isso for respeitado, há uma grande chance do acidente não ocorrer”, diz o bombeiro.
Os churrascos e confraternizações regados a cerveja também podem ser um perigo. “O álcool também pode ser um fator que acarreta acidentes, assim como prática de natação logo após as refeições, portanto é recomendado um tempo de descanso para digestão antes de uma atividade física na água”.
E em caso de afogamento, o que as pessoas ao redor podem fazer para ajudar?
“A primeira coisa a ser feita é arremessar algo flutuante para a pessoa que se afoga. Pode ser uma boia, uma câmara de ar ou até uma garrafa pet, que, conforme o tamanho da vítima, pode ser útil. Uma corda também é de grande valia. Nós não aconselhamos as pessoas a entrarem na água para tentar salvar alguém do afogamento. Esse trabalho, pra quem é experiente, é muito difícil e um leigo, sem treinamento, tem uma grande probabilidade de se tornar mais uma vítima”.
Depois que a vítima está em terra, é preciso desobstruir a boca e o nariz. “Deve-se deitá-la de costas, elevar o queixo da vítima, para liberar as vias aéreas superiores, e observar se ela aspirou ou ingeriu líquido. Se ela cuspir a água, vire a cabeça da vítima de lado evitando assim que o líquido não seja novamente aspirado ou engolido”.
    Enquanto os bombeiros não chegam, e se alguém ao redor tiver treinamento, é permitido reanimar a vítima. “Em caso de parada cardiorrespiratória, se alguem tiver capacitação, deve-se executar as manobras de reanimação cardiopulmonar”,


    Primeiros socorros em afogamento:
    • Após a pessoa ser retirada da água, para se evitar complicações, deve-se prover o cérebro e o
    coração de oxigênio (respiração boca-a-boca e animação cárdio-pulmonar) até que ela tenha
    condições para fazê-lo sem ajuda externa, ou até que seja entregue a um serviço médico
    especializado.
    Cuidados no socorro de quem está se afogando:
    • Se você for socorrer alguém que está se afogando, cuidado: não deixe que a vítima se agarre a
    você, pois assim os dois correm o risco de se afogarem.
    • Ao ser retirada da água, a vítima deverá ficar deitada de barriga para cima e com a cabeça de lado,
    a fim de que não ocorra aspiração de líquidos. Essa posição também impede que a língua bloqueie
    a garganta, facilitando a saída de líquidos.
    Lembre-se:
    • Evite andar próximo de rios, pontes ou locais em que existam bueiros, pois quando estiver ocorrendo
    uma enxurrada, você poderá ser levado pela correnteza. Água no umbigo, sinal de perigo. Tome cuidado.

    Em corpos d'água:
    • Use colete salva-vidas. Mesmo que elas saibam nadar, faça com que as crianças usem coletes salva-vidas dentro e ao redor de qualquer corpo d'água. Sempre use coletes salva-vidas aprovados pelo INMETRO quando for andar de barco, não importa a distância, profundidade, tamanho da embarcação ou habilidade para nadar do piloto.
    Antes de nadar ou andar de barco, pesquise a previsão do tempo daquele local. Evite nadar ou andar de barco sempre que houver ventos fortes, raios ou trovões.
    Procure observar ondas perigosas e sinais de correntes de retorno (por exemplo, água agitada ou espumosa com tonalidade escura, ou que está cheia de sedimentos vindos de longe da praia). Se você for arrastado por uma corrente de retorno, nade paralelo à praia; uma vez livre, nade diagonalmente em direção à praia para se afastar da corrente. Nunca nade contra uma corrente de retorno.

    quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

    A Natureza em Pessoa...


    Quando Eu
                              Quando eu não te tinha
                              Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
                              Agora amo a Natureza
                              Como um monge calmo à Virgem Maria,
                              Religiosamente, a meu modo, como dantes,
                              Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
                              Vejo melhor os rios quando vou contigo
                              Pelos campos até à beira dos rios;
                              Sentado a teu lado reparando nas nuvens
                              Reparo nelas melhor —
                              Tu não me tiraste a Natureza ...
                              Tu mudaste a Natureza ...
                              Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
                              Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
                              Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
                              Por tu me escolheres para te ter e te amar,
                              Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
                              Sobre todas as cousas.
                              Não me arrependo do que fui outrora
                              Porque ainda o sou.
     
    Vai Alta no Céu

                      Vai alta no céu a lua da Primavera
                      Penso em ti e dentro de mim estou completo.
                      Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
                      Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
                      Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
                      E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
                      Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
                      Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
                      Isso será uma alegria e uma verdade para mim.
     
     
    O Amor é uma Companhia

                                          
                     O amor é uma companhia.
                     Já não sei andar só pelos caminhos,
                     Porque já não posso andar só.
                     Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
                     E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
                     Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
                     E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
                     Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
                     Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
                     Todo eu sou qualquer força que me abandona.
                     Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
     
    O Pastor Amoroso

                        O pastor amoroso perdeu o cajado,
                        E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
                        E de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe pira tocar.
                        Ninguém lhe apareceu ou desapareceu.
                        Nunca mais encontrou o cajado.
                        Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
                        Ninguém o tinha amado, afinal.
                        Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
                        Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,
                        As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
                        A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
                        estão presentes.
                        (E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco
                        nos pulmões)
                        E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor,
                        uma liberdade
                        no peito.
     
    Passei Toda a Noite
                        Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
                        E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
                        Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
                        E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
                        Amar é pensar.
                        E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
                        Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
                        Tenho uma grande distração animada.
                        Quando desejo encontrá-la
                        Quase que prefiro não a encontrar,
                        Para não ter que a deixar depois.
                        Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
                        Quero só Pensar nela.
                        Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
     
     
    Todos os Dias
                             Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
                             Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
                             Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
                             E posso estar na realidade onde está o que sonho.
                             Não sei o que hei de fazer das minhas sensações.
                             Não sei o que hei de ser comigo sozinho.
                             Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.
     

    quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

    A morte diária e silenciosa:


    Estresse: O Assassino Silencioso 

    O mundo surpreendeu-se com a notícia de que a espaçonave russa, a estação espacial Mir (paz), ficara sem energia por uma ordem errada do comandante Vladimir Tsibliev. O médico, que cuida dos tripulantes, Igor Goncharov, explicou, com a maior naturalidade, que o engano fora resultante do estresse do comandante. Nunca a palavra estresse ganhou tamanha notoriedade em circunstâncias tão dramáticas.
    E o que é estresse? Não há ainda uma definição para o mesmo nos compêndios de patologia médica. É o dicionário Aurélio que nos diz que o estresse (em bom português) é "o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase" (equilíbrio).
    Hoje o termo estresse é amplamente usado na linguagem atual e nos meios de comunicação. Designa uma agressão, que leva ao desconforto, ou as conseqüência desta agressão. É uma resposta a uma demanda, de modo certo ou errado.
    O estresse corresponde a uma relação entre o indivíduo e o meio. Trata-se, portanto, de uma agressão e reação, de uma interação entre a agressão e a resposta, como propôs o médico canadense Hans Selye, o criador da moderna conceituação de estresse. O estresse fisiológico é uma adaptação normal; quando a resposta é patológica, em indivíduo mal-adaptado, registra-se uma disfunção, que leva a distúrbios transitórios ou a doenças graves, mas, no mínimo agrava as já existentes e pode desencadear aquelas para as quais a pessoa é geneticamente predisposta. Aí torna-se um caso médico por excelência. Nestas circunstâncias desenvolve-se a famosa síndrome de adaptação, ou a luta-e-fuga (fight or flight), na expressão do próprio Selye.
    Segundo a colocação dada ao estresse por este autor, num congresso realizado em Munique, em 1988, "o estresse é o resultado do homem criar uma civilização, que, ele, o próprio homem não mais consegue suportar". E, em se calculando que o seu aumento anual chega a 1%, e que hoje atinge cerca de 60% de executivos (veja uma pesquisa anexa), pode-se chamar de a "doença do século" ou, melhor dizendo, " "a doença do terceiro milênio". Trata-se de um sério problema social econômico, pois é uma preocupação de saúde pública, pois ceifa pessoas ainda jovens, em idade produtiva e geralmente ocupando cargos de responsabilidade, imobilizando e invalidando as forças produtivas da nação; e é mais importante ainda no Brasil que, por ser um país ainda jovem, exclui da atividade pessoas necessárias ao seu desenvolvimento. Não se sabe exatamente a incidência no Brasil, mas nos
    Estados Unidos gastam-se de 50 a 75 bilhões de dólares por ano em despesas diretas e indiretas: isto dá uma despesa e 750 dólares por ano por pessoa, que trabalha.
    A vulnerabilidade hereditária, mais a preocupação com o futuro, num tempo de incertezas, de um o país que estabiliza a moeda, mas aumenta o número de desempregados, ao mesmo tempo em que a qualidade de vida piora, existem os medos do envelhecimento em más condições, e do empobrecimento, além de alimentação inadequada, pouco lazer, a falta de apoio familiar adequado e um consumismo exagerado. Todos são fatores pessoais, familiares, sociais, econômicos e profissionais, que originam a sensação de estresse e seu conseqüente desencadeamento de doenças, de uma simples azia à queda imunológica, que pode predispor infeções e até neoplasias.
    A Universidade de Boston elaborou um teste rápido e auto-aplicável (anexo), onde você pode "medir" o nível de seu estresse. Se você passou incólume, pare de ler o artigo. Mas, se você se "encontrou" nos ítens apontados, mesmo em nível baixo, siga cuidadosamente a exposição.

    O Que Provoca o Estresse ?

    São os grandes problemas da nossa vida que, de modo agudo, ou crônico, nos lançam no estresse. Diversos pesquisadores notaram que a mudança é um dos mais efetivos agentes estressores. Assim, qualquer mudança em nossas vidas tem o potencial de causar estresse, tanto as boas quanto as más. O estresse ocorre, então, de forma variável, dependendo da intensidade do evento de mudança, que pode ir desde a morte do cônjuge, o índice máximo na escala de estresse, até pequenas infrações de trânsito ou mesmo a saída para as tão merecidas férias.
    Certos eventos em nossas vidas são tão estressantes, que caracterizam a situação de trauma (lesão ou dano) psíquico. Recentemente as ciências mentais reconheceram uma nova síndrome, batizada de Distúrbio de estresse pós-traumático, uma verdadeira doença, pertencente ao estudo da angústia. Tornou-se bem sistematizada a partir da volta dos "viet-vets", ou veteranos da guerra do Vietnam. Esta doença ocorre com quadros agudos de angústia, grave e até invalidante, quando a ex-vítima é exposta a situações similares, tornando a desencadear todos os sintomas ansiosos severos, que conheceram durante a violência a que estiveram submetidos: são os "flash-backs", que revivenciam as situações traumatizantes.
    Isto não é aplicado apenas a veteranos de guerra; vejam-se os crescentes índices de violência urbana e as suas vítimas, que vivem quadros de desespero permanente, quando não atendidos adequadamente em serviço psiquiátrico de reconhecida competência na área. Bombas, acidentes automobilísticos ou aéreos, desabamentos, assaltos com extrema violência, sequestros prolongados, estupros, etc. são causas comuns do distúrbio de estresse pós-traumático. O tratamento costuma ser demorado, mas tende a um bom prognóstico.
    Quais São as Bases Funcionais do Estresse ?
    Da Silva, um cirurgião americano do século passado, foi o primeiro a perceber que soldados feridos só caíam prostrados após alcançarem a meta: isto é, lutavam ainda sob efeito de 'adrenalina'. O fisiologista Walter Cannon observou que as reações alerta/luta e fuga em animais desencadeavam um maciço aumento das catecolaminas urinárias (substâncias decorrentes do metabolismo da adrenalina).
    O cientista que estudou pela primeira vez o estresse, Hans Selye descreveu uma resposta fisiológica generalizada ao estresse, caracterizada pela seguinte seqüência:
    • A percepção de um perigo eminente ou de um evento traumático é realizado pela parte do cérebro denominado córtex; e interpretado por uma enorme rede de neurônios que abrange grandes partes do encéfalo, envolvendo, inclusive, os circuitos da memória;
    • Determinada a relevância do estímulo, o córtex aciona um circuito cerebral subcortical, localizado na parte do cérebro denominada sistema límbico, através das estruturas que controlam as emoções e as funções dos sistemas viscerais (coração, vasos sanguíneos, pupilas, sistema gastrointestinal, etc.) através do chamado sistema nervoso autônomo. Estas estruturas são a amígdala e o hipotálamo, principalmente. A ativação dessas vias vai causar alterações como dilatação pupilar, palidez, aceleração e aumento da força das batidas cardíacas e da respiração, erecção dos pelos, sudorese, paralisação do trânsito gastrointestinal, secreção da parte medular das glândulas adrenais (adrenalina e noradrenalina), etc.; e que constituem os sinais e sintomas da ativação tipo luta-ou-fuga descrevidos por Cannon;
    • Ao mesmo tempo, o hipotálamo comanda uma ativação da glândula hipófise, situada na base do cérebro, com a qual tem estreitas relações. No estresse, o principal hormônio liberado pela hipófise é o ACTH (o chamado hormônio do estresse), que, carregado pelo sangue, vai até a parte cortical (camada externa) das glândulas adrenais (situadas sobre os dois rins), e provocando um aumento da secreção de hormônios corticosteróides. Estes hormônios têm amplas ações sobre praticamente todos os tecidos do corpo, alterando o seu metabolismo, a síntese de proteinas, a resistência imunológica, as inflamações e infecções provocadas por agressões externas, etc. O seu grau de ativação pode ser avaliado medindo-se a quantidade de cortisol no sangue.
    • Essa descarga dupla de agentes hormonais de intensa ação orgânica: de um lado a adrenalina, pela medula da adrenal, e de outro, os corticóides, pela sua camada cortical, levaram os cientistas a caracterizar essas glândulas como sendo o principal mediador do estresse.
    Essas respostas são normais em qualquer situação de dano, perigo, doença, etc. Assim, dizemos que existe um certo nível de estresse que é normal e até importante para a defesa do organismo, ao qual denominamos de eustress. O perigo para o organismo passa a ocorrer quando a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal se torna crônico e repetido. Nesse momento, começam a surgir as alterações patológicas causadas pelo nivel constantemente elevado desses hormônios.
    Assim, reconhece-se que o estresse tem três fases, que se sucedem quando os agentes estressores continuam de forma não interrompida em sua ação:
    • A fase aguda
      Esta é a fase em que os estímulos estressores começam a agir. Nosso cérebro e hormônios reagem rapidamente, e nós podemos perceber os seus efeitos, mas somos geralmente incapazes de notar o trabalho silencioso do estresse crônico nesta fase.
    • A fase de resistência
      Se o estresse persiste, é nesta fase que começam a aparecer as primeiras conseqüências mentais, emocionais e físicas do estresse crônico. Perda de concentração mental, instabilidade emocional, depressão, palpitações cardíacas, suores frios, dores musculares ou dores de cabeça freqúentes são os sinais evidentes, mas muitas pessoas ainda não conseguem relacioná-los ao estresse, e a síndrome pode prosseguir até a sua fase final e mais perigosa:
    • A fase de exaustão
      Esta é a fase em que o organismo capitula aos efeitos do estresse, levando à instalação de doenças físicas ou psíquicas.

    Problemas Causados pelo Estresse
    O estresse pode ser causador e/ou agravador de uma série de doenças, que vão da asma, às doenças dermatológicas, passando pelas alérgicas e imunológicas; todas elas relacionadas de alguma forma à ativação excessiva e prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
    Na área do sistema digestivo, é sabido por todos que o estresse pode desencadear desde uma simples gastrite, até uma úlcera: o famoso cirurgião Alípio Corrêa Neto, da USP e da Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo), dizia que se alguém afirmasse, há 20 anos atrás, que a úlcera péptica era psicossomática (leia-se somatoforme), ririam dele; hoje, se deixasse de dizê-lo, ririam dele.
    Mas, é principalmente a nível de coração, ou mais precisamente, a nível das coronárias, que o estresse pode ser um matador silencioso.
    Uma ativação repetida e crônica do sistema nervoso autônomo, numa pessoa que já tenha problemas de lesão da camada interna das arterias coronárias (aterosclerose), provocadas por fumo, gordura excessiva na alimentação, obesidade ou colesterol elevado, etc., vai levar a muitos problemas, tais como:
    • diminuição do fluxo sangüineo adequado para manter a oxigenação dos tecidos musculares cardíacos (miocárdio). Isso leva à chamada isquemia do miocárdio, que é acompanhada de dores no coração (angina), principalmente quando se faz algum esforço, e até ao infarto do coração (ataque cardíaco), provocado pela morte das células musculares do coração, por falta de oxigênio. A adrenalina tem o poder de contrair esses vasos, agravando o problema de quem já os tem com o diâmetro reduzido pelas placas. O resultado para essas pessoas pode ser até a morte, que muitas vezes acompanha um estresse agudo.
    • Outros problemas comuns são a ruptura da parede dos vasos enfraquecidos pela placa aterosclerótica, ou a trombose (entupimento completo do vaso coronariano). Um pequeno coágulo (trombo) pode desencadear uma cascata de coagulação, que também pode levar à morte. O nível elevado de adrenalina também pode provocar alterações irregulares do ritmo cardíaco, denominadas de arritmias ("batedeira"), que também diminuem o fluxo de sangue pelo sistema cardiovascular.
    Outros sintomas

    No campo clínico (somático) os distúrbios ainda ditos 'neuro-vegetativos' são comuns: quadro de astenia (sensação de fraqueza e fadiga), tensão muscular elevada com cãibras e formação de fibralgias musculares (nódulos dolorosos nos músculos dos ombros e das costas, por exemplo), tremores, sudorese (suor intenso), cefaléias tensionais (dores de cabeça provocas pela tensão psíquica) e enxaqueca, lombalgias e braquialgias (dores nas costas e nos ombros e braços), hipertensão arterial, palpitações e batedeiras, dores pré-cordiais, colopatias (distúrbios da absorção e da contração do intestino grosso) e até dores urinárias sem sinais de infecção.
    O laboratório clínico fornece outros detalhes indicativos da intensa ativação patológica no estresse: aumento da concentração do sangue e do conteúdo de plaquetas (células responsáveis pela coagulação sangüínea), alteração do nível de cortisol, alterações de catecolaminas urinárias e alterações de hormônios hipofisários e sexuais, além dos aumentos de glicemia (açucar no sangue) e colesterol, este por conta do LDL, ou o 'mau colesterol'.
    Sintomas psíquicos
    Nas ocasiões estressantes, e mesmo fora delas, manifesta-se uma gama de reações de ordem psicológica e psiquiátrica. Ou, pelo menos temporárias, perturbações de comportamento ou exacerbação de problemas sociopáticos.
    Os problemas ansiosos com a sintomatologia clínica, além de irritabilidade, fraqueza, nervosismo, medos, ruminação de idéias, exacerbação de atos falhos e obsessivos, além de rituais compulsivos, aumentam sensivelmente. A angústia é comum e as exacerbações de sensibilidade com provocações e discussões são mais freqüentes.
    Do ponto de vista depressivo, a queda ou o aumento do apetite, as alterações de sono, a irritabilidade, a apatia e adinamia, o torpor afetivo e a perda de interesse e desempenhos sexuais são comumente encontrados.
    Existem também as "fugas", que todos conhecemos. Quando não se apela para a auto-medicação com ansiolíticos (um perigo!), a pessoa refugia-se na bebida e mesmo no consumo de drogas ilícitas de uso e abuso, além de aumentar a quantidade de cigarros fumados, quando for fumante.
    São estas as condições da derrocada à qual o estresse leva a pessoa, principalmente quando esta tiver uma personalidade hiperativa.
    Como Diminuir o Estresse ?

    Em um excelente artigo sobre estresse, principalmente no trabalho (e a maior parte de nós trabalha), o psiquiatra Cyro Masci sugere medidas profiláticas iniciais, secundárias e terciárias. Mas, em resumo, quando possível, devemos parar para pensar; para nos darmos a liberdade de termos um tempo para refletir sobre cada um de nós e seus esquemas pessoais, familiares, sociais, de trabalho, de estudos e até econômico-financeiros. Devemos reformular a vida, procurando reduzir as áreas geradoras de estresse. Um bom psiquiatra pode nos ajudar nesta tarefa.
    Muitas vezes haverá a necessidade de uso concomitante de um tratamento medicamentoso, geralmente através dos modernos antidepressivos serotoninérgicos (ISRS) com ou sem ansiolíticos e/ou beta-bloqueadores por um tempo definido: começo, meio e fim.
    Quando já existe um quadro orgânico instalado, desde uma simples gastrite a asma ou alteração cardiorrespiratória, a busca de atendimento clínico é fundamental. A correção da alteração clínica é imprescindível. E esta pode ir de um simples a complexo tratamento ou resumir-se somente às necessárias mudanças do modo de viver, incluindo lazer ou uma pequena prática esportiva constante (porque não uma caminhada diária?, que faz bem a qualquer um de nós).
    Mas, a principal atitude ainda é um alerta ao modo de viver e de trabalhar com as vivências e com as emoções que a vida nos proporciona. E aí está verdadeira e milenar sabedoria.