Estudos
indicam a existência de menos de 250 onças-pintadas adultas na Mata Atlântica.
Um grupo de 13 pesquisadores brasileiros publicou, na edição de 22 de novembro
da revista científica Science, uma carta que alerta sobre o risco
de desaparecimento da onça pintada na floresta, com base em estudos científicos
realizados pelos autores. A Mata Atlântica ocupava no passado quase toda a
costa brasileira, chegando até a Argentina e o Paraguai. Pedro Manoel Galetti Júnior,
professor do Departamento de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), é um dos autores da publicação.
Os
estudos comentados indicam que existem no bioma, atualmente, menos de 250
animais adultos, distribuídos em oito populações isoladas. Com base neste e em
outros indicadores, os autores da carta afirmam que a Mata Atlântica poderá
ser, em breve, o primeiro bioma tropical a perder o seu maior predador, com
efeitos imprevisíveis e, certamente, devastadores. A carta afirma também que a
principal causa do declínio da população de onças pintadas na Mata Atlântica é
a caça relacionada aos impactos do animal sobre a pecuária, que acontece
inclusive no interior de áreas de preservação.
A Science,
juntamente com a revista Nature, é considerada o principal periódico
científico multidisciplinar da atualidade.
- Com
informações da Coordenadoria de Comunicação Social da Universidade Federal de
São Carlos. Para mais informações, contatar Mariana Pezzo – mariana@ufscar.br.
Onça-pintada
estará extinta em menos de 100 anos no Parque Nacional do Iguaçu
Um
exemplo do que os pesquisadores alertam na carta à Revista Science está no
Parque Nacional do Iguaçu. A região do Parque Nacional do Iguaçu já teve
registro de 180 onças-pintadas. Atualmente, porém, a estimativa é de que
existam apenas 18 indivíduos vivendo na área e que em 80 anos a espécie estará
extinta.
As
informações foram divulgadas durante o Fórum Mundial do Meio Ambiente deste
ano, em Foz do Iguaçu, por Marina Xavier da Silva, coordenadora do projeto
Carnívoros do Iguaçu, e por Ronaldo Morato, coordenador do Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“Análises
genéticas que fizemos em 2010 na população do Alto Paraná indicam que ela está
sofrendo e, se não tiver ações eficazes e rápidas, a probabilidade de extinção
é de 80 anos, de acordo com os modelos matemáticos. Há a necessidade de empenho
de todos”, afirmou Morato. Ainda segundo ele, em 2011 a revista Science
publicou um estudo que mostrou que a perda de grande predador numa área pode
levar ao desaparecimento desse ambiente, o que é muito preocupante.
De acordo
com Morato, existem hoje 20 mil armadilhas fotográficas, porém não há mais o
registro de queixadas no parque – que são as presas preferidas da onça-pintada.
“Então, o risco de extinção da onça também é grande”, afirmou.
O parque
sofre com a caça, pesca e exploração ilegal de palmito. A Unidade de
Conservação tem um perímetro total de 420 km e há muitas estradas e pequenas
propriedades na região.
“Temos
convênio com a Polícia Ambiental do Paraná e existe uma corporação com 40
homens dentro do parque, trabalhando em escalas. Mesmo tendo esse convênio é
pouca gente. Há ainda 10 servidores públicos. Falta gente, faltam recursos e
estrutura, como caminhonete e postos nos diversos municípios para coibir os
crimes”, afirma o chefe do parque, Jorge Pegoraro.
A caça
ilegal é uma das principais ameaças ao meio ambiente e aos animais do Parque. A
situação se complica com a possibilidade de reabertura da antiga Estrada do Colono dentro
do Parque.
Segundo a
PF, até ser fechada, a Estrada do Colono era “largamente utilizada por
criminosos como caminho para transportar mercadorias ilícitas, armas, munições
e drogas, além de facilitar a prática de crimes ambientais” e que a reabertura
“seria mais um complicador no que se refere ao controle de nossas
fronteiras”.Além da Polícia Federal, a Ministra do Meio Ambiente, a sociedade
civil e personalidades já expressaram publicamente sua oposição à estrada no
interior do Parque. Um coletivo de organizações da sociedade civil também já
enviaram carta para Unesco advertindo sobre a ameaça ao Patrimônio Natural da
Humanidade.
A
construção da “Estrada-Parque Caminho do Colono” cortará ao meio um dos últimos
remanescentes florestais contínuos de Mata Atlântica, impactará e colocará sob
ameaça a conservação da biodiversidade em Iguaçu. Imagens aéreas mostram
que a região por onde passava a Estrada do Colono (veja histórico) já se
recuperou e hoje voltou a ter floresta.
“A
cobertura vegetal já tomou conta, só resta uma cicatriz, mas houve uma
extraordinária recuperação da Mata Atlântica”, afirma o chefe do parque, Jorge
Pegoraro. Se ela voltar a ser aberta, os riscos de caça aumentam e os animais
ficarão ainda mais ameaçados.
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