quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Olha o progresso aí gente!!!



Metas morfóbicas


Quando o medo puxava lustro à cidade
eu era pequeno
vê lá que nem casaco tinha
nem sentimento do mundo grave
ou lido Carlos Drummond de Andrade
....................................
mas agora       morto Adamastor
tu viste-lhe o escorbuto e cantaste a madrugada
das mambas cuspideiras nos trilhos do mato
falemos dos casacos e do medo
tamborilando o som e a fala sobre as planícies verdes
a música é o brinquedo
a roda
e o sonho
das crianças que olham os casacos e riem
na despudorada inocência deste clarão matinal
que tu
clandestinamente plantaste
aos gritos

E nas quatro costas
do horizonte reacionário das paredes
uma exatidão de féretro tem precisamente
as passadas infalíveis dum recluso.
E a vida
a injúrias engolidas em seco
tem o paladar da baba das hienas uivando
enquanto no dia lúgubre de sol
os jacarandás ao menos ainda choram flores
mas de joelhos o medo
puxa lustro à cidade
ardem cidades. ardem palavras. inocentes chamas
que nomeiam amigos, lugares, objetos, arqueologias.
arde a paixão no esquecimento de voltar a dialogar com
o mundo. arde a língua daquele que perdeu o medo.

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