Utopia é
tudo que não foi pensado...
É sabido que a revolução cultural dos
anos 1960 e 70 provocaram alterações nas reivindicações do discurso social. Se
antes os protestos contra a acumulação do capital e exploração do proletariado
davam o tom das críticas endereçadas ao sistema capitalista, no que o sistema
respondia com seu aparato repressivo e pequenas concessões trabalhistas. Na
segunda metade século XX tem-se as grandes mobilizações da classe popular pela
ampliação dos direitos civis e pela liberdade de expressão, reclamada pela
classe média urbana. A maneira do filme “Um convidado bem trapalhão”, produzido
no mítico ano de 1968, o espírito revolucionário faz-se pouco caso da sociedade
burguesa, centrada na manutenção da tradição. Aos poucos novos e estranhos
elementos reivindicam participação numa festa pouco tolerante a incorporação de
convidados inesperados.
A
resposta do sistema hegemônico é novamente a repressão e deslocamento para uma liberdade
voltada para o consumo. Numa recuperação inesperadamente rápida o que fica para
geração pós-68 é não mais que um hedonismo permissivo, que se desenvolve por
meio de um mecanismo de opressão mais aperfeiçoado por ser mais potente e menos
perceptível: se antes o indivíduo era expressamente proibido de gozar de seu
próprio corpo, atualmente ele é continuamente estimulado a desfrutar de tudo o
que o mercado tem a lhe oferecer, mas é diante de sua impossibilidade de
tolerar uma overdose de prazer que parece não ter limites, nem motivos que ele
sofre, basta lembrarmos do filme “Clube da luta” onde o personagem principal
torna-se infeliz , insensível e incapaz de viver a vida se não recorrer a
práticas radicais de obter prazer.
No campo político muito pouco se
salva. Se os jovens utópicos da geração de 68 usavam calças rasgadas (ou não as
usavam), vestiam camisetas coloridas e despenteavam os cabelos para dizer não a
imposição do modelo capitalista liberal, cujo paradigma é o empresário de terno
e cabelo engomado. Atualmente, no entanto, o modelo neoliberal do capitalismo
democrático parece ser considerado a forma mais aperfeiçoada de sociedade
possível. Seus defensores em sua maioria consideram a possibilidade de no
máximo alguma pequena reforma ali, ou um aperfeiçoamento do sistema econômico
acolá. O consenso parece ser o de que este realmente é o modelo socioeconômico
definitivo.
Sejamos
realistas...
O jovem médio é levado a crer que seu
sonho deva ser construído em torno de algum empreendimento financeiro,
principalmente no meio da informática ou construir uma carreira em alguma
multinacional através de uma dedicação integral como um eficiente
“colaborador”.
Longe de querer parecer pessimista,
acredito que ainda há esperança e ela se encontra justamente com a população
semi-alfabetizada, subempregada, mal-remunerada e explorada. É ao lado dos
desfavorecidos de todas as formas que devemos estar, pois eles são o sintoma de
que algo não vai bem. Gerações e mais gerações de marginalizados são a
evidencia de que algo nunca esteve bem. Se forem ignorados como continuamente
tem sido feito, qualquer luta contra uma visão social de mundo hegemônica perde
seu potencial subversivo.
Não gosto do conceito de inclusão,
pois traz uma enorme carga semântica. Incluir significa submeter uma parte a um
conjunto maior, situado num contexto superior, tido como universal. Significa
em última instância abdicar de certa singularidade que diferencia. Quando nos
referimos ao sistema socioeconômico capitalista estamos falando da lógica do
grande mercado de consumo. Portanto, falar em inclusão dos excluídos quer dizer
uma humanização desse mercado para absorver os que dele não participam. Hora, é
a própria existência de várias gerações de “excluídos” que denuncia a ilusão de
universalidade pretendida pelo mercado consumista.
Sendo assim, é apenas o engajamento
nas diversas lutas ao lado dos explorados que se sustentada, faz vacilar as
certezas de um sistema baseado na ilusão de uma universalidade. As resistências
e dificuldades que não cessam de se apresentar nessa empreitada são os maiores
indicadores da potência subversiva dos não favorecidos.
Se não considerarmos a oposição entre
os exploradores e as classes exploradas, corremos o risco de acreditar num
mundo onde Steve Jobs foi o grande humanista da última década.
Muito inteligente!
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