Se por um lado existem milhares de opções em riqueza e conforto, existe também um mal estar generalizado. As pessoas parecem buscar ansiosamente por algo que não se vende nos shoppings, não sai em revistas de publicidade e talvez nem tenha um nome ainda. Esta ‘coisa’ não é encontrada nas pratelerias dos supermercados, não foi descoberta pelos cientistas, não foi processada pelos laboratórios farmacêuticos e não está disponível para o consumo, seja no varejo, seja no atacado.
Que produto é esse que o capitalismo ainda não conseguiu enlatar?
O mesmo fenômeno se manifesta também nos meios universitários. Embora as pessoas continuem buscando certezas e garantias nos diplomas e cursos oficiais, existem pesquisas que apontam para um fato insólito: no fundo, muitos já sabem que o que procuram não será encontrado em títulos, MBAs, doutorados ou especializações. Não, isso não está também nas pratelerias das bibliotecas. Estudantes universitários torcem o nariz: estão saturados de informações e... infelizes. Mal saem da Universidade e se deparam com um mundo enlouquecido pela competição. Em pouco tempo estão estressados.
Deprimidos. Alguns até infartados.
Não é estranho que todos procurem por algo que não sabem sequer o que é? Há uma ou duas gerações atrás, tudo se resumia numa questão de doenças físicas ou mentais. Médicos ou psicólogos davam conta. Ás vezes era preciso chamar o padre ou a benzedeira. Hoje não. Vivemos uma espécie de mal estar metafísico. Doença da alma. Falta um sentido para a vida. Diante disso a ciência emudece. A medicina se cala. A psicologia estanca.
Como
uma resposta a esta vida sem significado
ressurgiu, há alguns anos, uma
antiga visão de mundo holística,
sistêmica, integrada, e que tenta
reunir aquilo que esta ciência
desumana e mecanicista separou. Na psicologia
surgem novos métodos, resgatando
os anseios espirituais como fonte de
saúde e equilíbrio psico-emocional
do ser humano. Na física multiplicam-se
descobertas que lançam uma outra
luz sobre a consciência e sua
função de organizadora
da realidade. Estamos iniciando uma
era de convergência planetária,
onde a antiga e milenar sabedoria oriental
se associa à visão racionalista
ocidental, produzindo novas e modernas
conexões.
Como
tudo isso chega até o cidadão
comum, aquele que se nutre do que Mídia
oferece? Essa nova visão de mundo,
que já era conhecida e natural
aos nossos antepassados, chegam até
nós como se fossem novidades.
Primeiramente foram as terapias chamadas
“alternativas”. Enquanto
o saber oficial torcia o nariz, as pessoas
buscavam cada vez mais essa medicina
natural, energética, preventiva.
Juntos, surgiram os “naturebas”,
exaltando a alimentação
vegetariana e uma vida mais simples
e saudável. Aos poucos foram
pintando aqui e ali as comunidades auto-sustentáveis,
pregando uma consciência ecológica
e a revolução do pensamento
holístico. Ensinavam, com a sua
poesia visionária, que estamos
todos interconectados com tudo e o que
uma flor arrancada aqui vai provocar
ressonâncias no Japão.
O movimento
“transpessoal” faz parte
desse contexto de renovação
planetária. Iniciado nos Estados
Unidos na década de 60, ganhou
as universidades e centros de pesquisa,
representando um núcleo de convergência
das tradições orientais
(yoga, budismo, sufismo, cabala, etc)
com as mais modernas teorias da ciência
contemporânea (física quântica,
morfogenética, psico-neuro-imunologia,
etc) que estudam a consciência.
Depois de tanto tempo confinada aos
estreitos limites de uma visão
comportamentalista, a psicologia volta
sua atenção a métodos
de expansão da consciência,
à exploração do
potencial da mente, ao desenvolvimento
dos anseios espirituais humanos. A esta
força emergente foi dado o nome
de Transpessoal.
Seu método
ensina como integrar corpo, mente e
emoções numa dimensão
maior e mais abrangente, que é
a espiritualidade. Quando não
existe essa integração,
nossa consciência se polariza
numa dessas funções, e
então nos tornamos ou muito ligados
às sensações físicas,
ou muito emocionais ou excessivamente
mentais. Isto revela um desequilíbrio
e compromete nosso desempenho global.
O tempo
exige menos elucubrações
mentais e mais experiências internas,
mais auto-conhecimento, mais técnicas
transformadoras. Pessoas que passaram
por uma experiência de expansão
da consciência relatam uma profunda
mudança interior, onde ocorrem
mudanças de valores, paz interior
e aumento na capacidade de amar. A vida
se transforma com a emergência
do sagrado em todas as coisas.
Esta é
a grande mudança de paradigma
de nosso tempo. Este é o tempo
da consciência. Surge uma nova
ética, uma ética ecocêntrica,
que vem de oikós – morada
do ser. Não é mais o ego
que está no centro, não
mais o ego-centrismo, mas sim, o eco-centrismo
– lugar onde o Ser faz sua morada.
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